Expedição Aurora Boreal Noruega, Tromso – 2011
Depois do super fracasso da primeira expedição, o assunto aurora ficou um pouco marginalizado nas minhas viagens.
Enfim fui abençoado, consegui sentir a emoção das auroras boreais.
Fui para o Egito, Turquia, Moscou e a coisa acabou adormecendo até que num belo dia recebo um email, com o assunto ‘SVALBARD’, do meu amigo Pedro, que hoje mora em Londres.
Estava com previsão de embarcar para Itália para a feira de design e móveis que acontece em Milão todos os anos. Pra quem não sabe eu tenho uma loja em Curitiba.
Após conversar com o Pedro e estudar o destino decidi: Svalbard, é pra lá que eu vou! E com parada em Tromsø, ‘capital’ da Aurora Boreal.Pesquisei também Finlândia e Suécia mas foquei na Noruega e Svalbard
Encontrei o guia chamado Gunnar (que agora, depois de tantas viagens que fiz, virou meu amigo e torcedor do Coritiba), contratei seu pacote e embarquei confiante na minha segunda tentativa.
Cheguei em Tromsø com uma forte nevasca. No segundo dia também nevava muito e Gunnar me ligou cancelando as tentativas de caçadas nas próximas quatro noites em razão do tempo.
Se tratando de um evento natural fica difícil não correr riscos e não encontrar a aurora. Sufoco!
Fui até o centro de informações turísticas e, com o meu inglês rude, misturado com meu norueguês inexistente e meu português nativo. Entendi que existia a possibilidade de ver a aurora na Finlândia , localidade de Kilpisjarvi mas eu não estava seguro de ir sozinho de carro até lá por que a tempestade de neve estava forte.Pessoal me disse que lá existiam lindos chalés típicos da Laponia Outra chance seria nos fjords, mas para isso teria que ir de ônibus de linha até perto de Alta, cidade situada 300km ao nordeste de Tromsø, para então pegar um navio e retornar pelos fjords… Oba, parece que teremos uma caçada!
A viagem foi cansativa. Várias horas no ônibus, que atrasou muito em função do tempo fechado e neve. Longas horas depois chegamos ao porto onde iríamos pegar o navio para retornar. Graças a um norueguês que também estava nessa “loucura”, o navio aguardou a nossa chegada, me lembro de muita neve e vento, fome e cansaço.
Quando entramos no navio nos informaram que os passageiros avulsos, sem cabine, só poderiam ficar em determinadas áreas e, em razão do atraso, não estavam mais servindo o jantar.
Vários locais no navio eram muito confortáveis, mas se eu deitasse iria dormir enquanto a aurora passaria sobre minha cabeça. ‘Depois de toda essa jornada, nem pensar!’ Pensei comigo mesmo.
Sentei perto da porta para o deck, cambaleava e dormia encostado no tripé da câmera. De repente ouvi uma gritaria louca, saí bem atordoado e vi um risquinho no céu, um tom de verde muito fraco que nem foto conseguia registrar.
Nessa hora não se passava nada pela minha cabeça a não ser: essa Aurora é um fiasco. Não durmo há horas, estou um trapo e nada de ver as tão sonhadas luzes.
Passou a madrugada, cheguei a Tromsø novamente e de carro , tentar ver alguma coisa diferente durante o dia… E lá fui eu.
Havia visto muitas fotos da aurora e não conseguia entender que somente aquele risco verdinho era tudo aquilo que as pessoas sonhavam em ver. Eu queria mais!
Fui novamente até o escritório de turismo e pedi ajuda. Descobri que existia o Expresso Polar, uma van que saia de Tromsø para ver a aurora.
“É esse mesmo”, pensei. No horário marcado a van passou me pegar. Eu, todo preparado, quando entrei na van me senti um ET. Tinha um monte de orientais com pequenas máquinas digitais e mal agasalhados tentando se esquentar… Percebi que seria mais uma noite de torturas.
Andamos por horas sem saber para onde íamos (hoje conheço bem os locais e dou risadas do meu medo rsrsrs). Chegamos até uma espécie de praia e somente eu com câmera profissional e tripé conseguia ver algo verde.
A temperatura caiu muito e os chineses só gritavam para ir embora. “Puts, que saco. Novamente viajei meio mundo e nao consegui ver essa aurora”.
Tinha desistido!
No retorno, no meio da estrada, um russo que viajav pela região gritou alucinadamente. Eu nao entendi bolhufas, mas peguei o tripé e pedi para o motorista parar. Desci dando com o tripé na cabeça dos coitados dos chineses.
Consegui, enfim, ver uma coisinha mais interessante. Mas nada que tenha me deixado satisfeito. Voltando para o hotel, na van, a frustração tomou conta novamente, mas eu voltei anotando as placas de orientação. Chegamos no hotel já se passavam das 3h da manhã.
Na minha cabeça eu nao compreendia porque não tive sucesso, mas não tive dúvidas. Peguei o carro e retornei pela estrada que percorremos até que algo me disse “entra aqui”.
Entrei e acabei em um fjord, com algumas daquelas casa lindas dos contos de fada e Papai Noel. Parei e fiquei lá, afinal era minha última noite em Tromsø. Dali eu iria a Svalbard e lá não era o local ideal para ver a aurora.
Devia ser umas 4h da manhã. Eu ali, sozinho, com um ‘friozinho’ de uns -15 C no meio de lugar nenhum a 12000 km de casa e, silenciosamente, ela chegou para transformar meus sonhos e desejos em realidade.
Um monstro verde dançando freneticamente sobre minha cabeça! Não sabia se corria, se sentava, se chorava, se eu ria… Tive medo, senti força, senti minha grandiosidade, não por muito tempo. Foi ali que percebi como somos insignificantes em tamanho e força comparados com as coisas que envolvem o universo, mas como podemos ser grandes para realizar nossos sonhos.
Guardei o equipamento e voltei a Tromsø. No retorno, só pensava nos meus pais, nos meus avós e nas pessoas que não sabiam que aquilo tudo que eu acabara de ver, existia.
Decidi, então, que compartilharia esse fenômeno com o máximo de pessoas que eu pudesse.
Antes de sentir a Aurora pela primeira vez, eu sonhava em conhecer o mundo. Não desisti desse plano, mas antes quero deixar muito conhecimento sobre a aurora ao máximo de pessoas possivel;
Um fenômeno natural de todos e para todos.